Amigos, a
conversa entre Luis, Felipe, Tiago, Pesky e Homero está prá lá de boa.
Então imaginei
de expor alguma coisa mais técnica, do tipo que não dói, só para enfatizar o
ponto da ciência, na elaboração de teorias, procedimentos e métodos de
validação ou refutação. Só estava imaginando como fazer isso. E calhou de
Neville expor uma excelente ideia, que muito tem a ver a respeito dessas
coisas; e, depois, o Pesky arremataou quase com os mesmas postulações.
Retornei ao
Neville pela manhã, num e-mail nem tão curto, mas até o momento aquele retorno
não caiu por aqui. Mas farei comentários, na linha ensejada acima, aproveitando
o comentário de Pesky. E espero que sirva de apoio apoio às discussões,
acrescentando-lhe algo. Meu ponto é o lado objetivo, técnico, científico. Então,
lá vai.
Pesky : “Eu só adicionaria que além de buscar por invariantes, a ciência também tem que se
preocupar em criar níveis conceituais (níveis de análise) nos quais buscar
essas invariâncias. Vem daí a importância dasconceituações abstratas (modelos)
que se faz em ciência.”
Victor:
Sobre o comentário acima, acima, só tenho a dizer que é por ali mesmo. E
acrescento, agora, o que penso e o que sei a respeito. Com isso, estarei
ampliando o alcance da percepção de vocês(Pesky/Neville), nesse particular
mister, de uma maneira que tentarei a mais simples e objetiva possível.
Efetivamente,
tudo que vc diz acima é, na verdade, parte do processo do desenvolvimento
científico. Observações, conceituações, modelamento físico, estruturação
matemática e experimentação, são os temperos do que se poderia chamar de algo
parecido com o que se entende por método científico. Ao menos com eu
entendo. Simetrias e invariantes, em especial, de diversas ordens, por
exemplo(meu exemplo preferido...), respondem pelo modelamento físico da TR. É
minha convicção, conforme adiantei no e-mail para Neville, que ainda está
viajando para o fórum, que as teorias físicas devem levar em consideração
coisas simples e inescapáveis como simetrias e invariâncias,já referidos, e homogeneidade
e isotropia do universo, que acrescento agora. Para mim, essas coisas parecem
apontar o norte mais provável, entre tantas outras aparentes indicações
de realidade também prováveis. Só que esses caminhos que ora enfoco radica na
observação do comportamento físico da natureza. Como deve ser. E assim me
parece, em vista da concordância, quando confrontado com os resultados de
réguas e relógios, a partir das teorias subjacentes.
Ocorre
que não precisamos ir muito longe para concluir coisas assim. Está tudo escrito
e juramentado tanto no principio da relatividade de Galileu, o início de tudo,
em que se estriba o Teoria de Newton, ou nos postulados da relatividade, que
apoiam a TR.
Estou
tergiversando, complicando? Espero que não.Espero mostrar mostrar meu ponto, de
como se chega ao entendimento acima, a partir desses conceitos seminais,
listados mais acim. Irei usar um pouco de matemática, de leve, mas que não
morde, garanto. Infelizmente não sei fazer diferente, de modo a fornecer uma
informação completa e tão competente quanto posso ou quanto seria necessário.
A
representação matemática da relatividade de Galileu tem como base a equação
fundamental da dinâmica, devida a Newton, F = m.a(letras em negrito representam
vetores) e que é
a gênese de tudo. Que fornece as dicas necessárias, quase de graça. Sim, é o
cais, o começo de tudo. É uma equação de movimento, pois expressa tudo que
interessa em relação a mudanças de posição, e entre outras variações
cinemáticas e dinâmicas. F é uma força e a uma aceleração(ligada a F), que expressa a rapidez da
rapidez com que uma partícula muda de posição no tempo. E já aqui começam as
considerações que fizemos acima. Esta equação de movimento deve ser válida em
qualquer sistema de referência. Este é, em si, um princípio básico e nada mais
nada menos que óbvio.
Isto é,
os resultados experimentais devem ser válidos quer aquelas sejam feitas num
sistema S qualquer,como um cartesiano, no qual o vetor de posição seja r(t), ou num sistema S´, como um esférico, onde o vetor
de posição é escrito como r´(t),acrescidos ou não de termos constantes, como uma posição
inicial ou uma velocidade inicial. A maneira de mapear, ou relacionar, ou levar
as coordenadas de r(t)
nas coordenadas de r´(t)
deve refletir o fato físico de que Sistemas de referência não alteram o
comportamento físico do que se está estudando.
Dizer
que as leis que regulamentam um dado comportamento físico no instante t = to devem ser as mesmas que o fazem num instante
posterior, t1 = t + to, é o mesmo que expressar um
simetria temporal, um invariância, uma lei de conservação. A observação de que
numa transformação temporal(por translação, como se diz), T = t + to, as leis da físicas se mantêm invariantes, aponta
para algo mais fundamental ainda: que o universo é homogêneo. Ou seja,
isto indica só isso: que tanto agora como dentro de 5 milhões de anos, as leis
da física serão as mesmas aqui e ou em Marte. (Deixe buracos negros de fora,
pois senão complica tudo... Agora, antes de continuar essa conversa, e para não
ficar dúvidas, devo informar mais algumas coisas a respeito do significado e
usos de F =
m.a,
pois mais acima
eu disse que F deve ser invariante sob mudanças de referenciais. E disse também
que essa invariança é mantida ao se passar de S para S´. Alguém pode levantar a
questão: ora,
mas as componentes de F em S´ são diferentes! Sim, são. Pois as
componentes dependem do sistema de referência usado e, para completar a
encrenca, dependem também das bases usadas. Mas isto nada tem demais. Meros detalhes
matemáticos, para auxiliar nas contas. Depois de feitas aquelas, lixeira neles.
A grandeza representativa do fenômeno, F, se mantém. As componentes se
“viram” por lá, de tal modo que, na composição final, a grandeza física é
preservada ante as leis da física.
Coloquei
essa questão assim para dizer ainda que, por trás da TN, e já na TN, há um
conceito essencial, que é o que se refere à distância entre dois pontos P1 e
P2, bem próximos. Trata-se do conceito de uma métrica. Que sem métrica esqueça
física e tudo o mais. Uma métrica é uma regra matemática associada a um espaço,
que serve para medir distâncias entre pontos e ângulos entre vetores. Ou seja,
uma métrica define e caracteriza nada menos que isto: um espaço. Métrica é, pois,
conceito fundamental, para somar-se ao que já liste. O espaço em que vivemos é
essencialmente vetorial. E uma métrica é como a comida para a fome, em um tal
espaço vetorial. (Mas, uma notícia mais leve: há espaços que não precisam de
métrica nenhuma para serem caracterizados. Mas esta é outra história.)
Nesta
conversa estou me referindo unicamente ao espaço métrico em que vivemos, que é
o feijão com arroz nosso de cada dia. A métrica, pois, é um conceito que
está, indireta evisceralmente linkado à lista de essenciais que você listou em
seu post.
Agora,
deixe-me expor como o PRG(Princípio da Relatividade de Galileu) é competente
para a descrição de qualquer sistema Newtoniano. E de como, a partir dele, o
elenco de conceitos essenciais vai sendo estabelecido, e de como isso resulta
em estruturas matemáticas definitivas e ricas em conteúdo. Um exemplo bastante
corriqueiro: a descrição completa, em termos de princípios gerais, de uma
simples partícula material em movimento livre, isto é, apenas sob a ação da gravidade.
O que de matemático podemos extrair de coisas assim? Essa partícula descreve
uma trajetória,que é conjunto de pontos ocupados pela partículo ao longo dela,
entre dois instantes consecutivos, claro. A essa trajetória está
associada uma velocidade, pois do contrário a tal nem existe. Cada ponto da
trajetória está referido à origem de algum referencial, do contrário não
podemos caracterizar a trajetória, não podemos dizer onde a partícula está após
decorrido um instante t qualquer. Isto é fundamental, já que a TN é
essencialmente determinista e isto deve constar de seu escopo. Além disso, é
imprescindível que se caracterize a rapidez com que ocorrem as mudanças de
posição, isto é, quão rápido, e como, a partícula passa do ponto P1
a P2, infinitesimalmente próximos, sobre a trajetória.
Tudo
isto me diz o seguinte: para caracterizar completamente o movimento livre da
partícula, o conhecimento da posição r(t), da velocidade v(t) e naturalmente do
parâmetro do qual ninguém se livra, o tempo, t, são inexoravelmente essenciais.
Podemos então imaginar que tudo pode ser descrito por uma função(dita uma
relação,ou um mapeamento)que envolva estas variáveis de movimento(posição,
velocidade e tempo), de tal modo a identificar e mensurar, sem ambiguidades, o
dito movimento. Uma condição adicional e até intuitiva para esta tal função é
que ela só pode depender, em cada ponto da trajetória, da posição e da
velocidade da partícula. Dessa maneira, e como cada ponto está muito bem
definido e previsto por F=ma(Segunda Lei de Newton), podemos considerar a
trajetória descrita entre dois instantes t1 e t2 como sendo perfeitamente
caracterizada pela soma por todos os pontos da trajetória, entre os
instantes considerados. Uma soma envolvendo muitas coisas extremamente próximas
é expressa, em matemática, por uma maneira de somar muito especial, chamada de
integral. Assim, juntando todos os pedaços acima com a última consideração, e,
chamando essa tal função “milagreira” de L, podemos expressar tudo,
compactamente, como: , onde os argumentos da função L são r, v e t. Esta integral
diz e expressa tudo quanto comentei mais acima, e é das coisas mais essenciais
e fundamentais no bojo das referências de qualquer pessoa que conheça e se
interesse, em algum nível, por física. Portanto, julgo que não estou
sendo pedante com estes desmenbramentos todos, de conhecimento pleno de muitos
e de nenhum ou pouco conhecimento para outros. É para estes a quem me dirijo.
Agora,
seria importante saber qual a forma da função que chamei de L, ou seja, se
L=x^2 + v(t).t +5, x^3, exp(x^1/2)+4, -1004.(x^2-8), ou o que lá seja. Então,
os conceitos, nem tão abstratos seguintes, entram em cena, para definir algumas
coisas. Assim, O que diz o princípio da homogeneidade? Diz que L não pode
depender de maneira essencial da posição r(t), já que o valor desse r(t), em
si, vai depender do sistema de referência(e das bases de vetores usadas, como
exposto mais acima. Portanto, de cara, vemos que a variação de L em relação a
r(t) só pode ser zero!.
Ou
seja, uma equação diferencial parcial já se apresenta voluntariamente: ∂/∂r =0 (derivada parcial de L
em relação a r(ou x, y, z).
Igualmente,
L não pode, também, depender do particular instante de tempo em que a
consideração está sendo feita. A razão é que isto violaria o princípio da
invariabilidade das leis da física. Então, nova equação parcial, em relação ao
tempo, vem exibir seu ar da graça, de maneira natural, com base na observação: ∂/∂t=0
Já
vemos aqui um ligeiro e crucial exemplo de que as coisas da natureza são bem
especificadas quando referidas a a certas quantidades invariantes. Os
invariantes têm como efeito imediato simplificar as representações matemáticas
da natureza, como concluiremos mais abaixo. É o que vislumbramos, já, na
discussão acima.
Ainda
falta um parâmetro a ser considerado: a velocidade. Qual seria a dependência de
L frente a este parâmetro, a
velocidade da partícula? Bem, agora vem o conceito de isotropia, outra
essencialidade exibida pela natureza.
Ou
seja, um resultado experimental não pode ser diferente se obtido noutra posição
do espaço, diferente da primeira em que o mesmo experimento foi realizada.
Melhor clarificando, um comprimento, como uma régua de 1 metro, não deixa
de ter o mesmo 1 metro se a observo e meço o comprimento na direção norte ou
leste-oeste. Com respeito às grandezas físicas, estas são representadas por
vetores, que têm um comprimento(módulo), direção e sentido. Ora, como disse
acima, um comprimento, no espaço, não muda com a direção. Ou seja, o
comprimento de um vetor é o mesmo ante qualquer rotação, para generalizar. E
mais, e fundamental:
a única
propriedade de um vetor que é invariante ante rotações é o seu comprimento.
E um
comprimento, ao longo de uma trajetória, se dividido por algum parâmetro que
especifica a trajetória, como o tempo, ou um segmento da reta da própria
trajetória, dá uma medida da rapidez com que o movimento ocorre, em relação ao
tal parâmetro. Ou seja, dá a velocidade. Mas a velocidade pode ser negativa ou
positiva, a depender do sentido do movimento. Então é essencial que ela, a
velocidade, figure na formação de L elevada ao quadrado, já que o comprimento
de um dado segmento, que define essa velocidade, é invariante, qualquer que
seja o sentido considerado. Ou seja, L passa a depender, apenas de , a forma final
é L=L(). Chamando de S a expressão da qual partimos, , temos, finalmente: S = , pois já descobrimos, conforme
indicou a Natureza, que não dependência de L com r e com t, daí a razão da
simplificação na última equação.
Isto é
tudo que podemos obter, a partir da Segunda Lei de Newton e dos conceitos
seminais acima mencionados por você e explicitados por mim? Não. Tem mais. Mas
isto basta, para a presente discussão. Podemos estudar fazendo-lhe um gráfico em
função de t, e então podemos tirar uma porção de conclusões importantes. Ou
podemos despir a moça acima de suas vestes, e olhar perplexos e embabascado
para o que tem embaixo. Mas como fazer isso, sem despertar a fúria dos pais?
Simples, usamos o Santo Graal da física matemática, que é o Desenvolvimento de
Taylor, que representa, em minha modesta opinião, mais da metade de toda
a física, e olhe, olhe, se não estou sendo pirangueiro!
Se
consideramos que as velocidades em questão são pequenas, esse desenvolvimento
permite escrever que:
,onde os coeficientes que podem ser desprezados, sem perda alguma
de informação embutida na expressão, são:
-O
primeiro, Ao, por ser constante, não contribui realmente para a trajetória,
portanto, para L(sua derivada se anula, enfim);
-o
segundo, para não violar o princípio das reversões(pois quando encontramos a
expressão final para L esta possibilidade de (reversão foi descartada);
Os
termos em v elevada à potência 3 ou superiores, como expresso pelo símbolo ,também são claramente
descartáveis, por serem muito menores frente ao terceiro termo,em . (Que for mais curioso, e quiser
verificar, considere c = 1 e expresse tudo em termos dessa unidade).
Desta
forma, entre mortos e feridos, sobrevive apenas o seguinte, como relação
essencial para L:
Esta
expressão é análoga àquela da energia cinética!!! E podemos, muitíssimo que
bem, associar o coeficiente a quem?
Resposta:
Massa, massa, eis a questão. Ou seja, trata-se do mesmo m da Segunda Lei de
Newton!
Vou
deixar isto para eventuais questionamentos.
Então
partimos de considerações simples, elementares, e a que chegamos? A uma lei,
das mais fundamentais e ligada a tudo quanto não está parado... bem como a tudo
que pode fazer as coisas não ficarem paradas”...
Como
nada pára neste universo de nosso senhor Jesus Cristo, infere-se que...
Trocando
em miúdos, miudinhos: as simetrias e invariantes levam a que as equações de
movimento, todas, são nada mais nada menos que meras consequências dessas
características da Natureza. A Segunda Lei de Newton é só uma consequência,
feliz, dessas coisas. É o que queria mostrar, por ora.
Considero
estas coisas de tanta profundidade e de tantas consequências que venho me
perguntando se Newton vislumbrou esses desdobramentos quando estabeleceu essas
regras de interação entre corpos F=ma. Mas, certamente, não; pois, claramente,
essa atenção aos tesouros que ora discutimos só começou a ser dada após o
advento da relatividade Einsteiniana.
Acho
espantosas algumas outras consequências das simetrias de movimentos de
partículas, ligadas a certas interações e a certas restrições entre elas. Por
exemplo, considerando a função energia potencial e uma interação conservativa
entre duas partículas, e mais uma vez a invariância por rotação, não é difícil
concluir, de maneira natural, que a Ep é função apenas da distância entre as
partículas; o que permite se chegar ao conceito tão fundamental de força
central, comum à gravitação de Newton e ao eletromagnetismo. And so on.
Tudo
isso extraído, de grátis, do que vai pela natureza, como podemos observá-la e
medir coisas com réguas e relógios.
Outro
desenvolvimento fundamental em física, usando os postulados da TR mais a
homogeneidade do espaço e do tempo, corresponde ao grupo de Lorentz, o que é
expresso em suas equações de transformação, de conhecimento de todos.
Esta
conversa tem mais desdobramentos interessantes, fisicamente falando, mas acho
pouco apropriado agora, vez que, dificilmente, alguém vai ler essa carrada de
palavras que escrevi, quanto mais outra, exceto aqueles a quem me
dirijo...
Posso
ter cometido gafes e equívocos no texto acima. Por favor, objetivando somar e
esclarecer, façam correções ou complementações.
Sds,
Victor.
De: ciencialist@yahoogrupos.com.br
[mailto:ciencialist@yahoogrupos.com.br]
Em nome de Pesky Bee
Enviada em: segunda-feira, 25 de junho de 2012 11:31
Para: ciencialist@yahoogrupos.com.br
Assunto: Re: [ciencialist] Re: "A Universe From Nothing", by
Lawrence Krauss
> Permitam-me
um palpite: O objetivo primário da Ciência é buscar
>
invariantes, ou seja, procurar as proposições que se mantem constantes
> dentro do
cenário em que são estabelecidas.
Nevillão,
bastante oportuno o teu comentário. Eu só adicionaria que
além de buscar
por invariantes, a ciência também tem que se
preocupar em
criar níveis conceituais (níveis de análise) nos
quais buscar
essas invariâncias. Vem daí a importância das
conceituações
abstratas (modelos) que se faz em ciência. Certas
disciplinas (a
neurociência, a química orgânica, a biologia, por
exemplo) praticamente
não existiriam se não se fizesse isso.
*PB*
From: Neville Martins
Sent: Monday, June 25, 2012 2:27 AM
To: ciencialist@yahoogrupos.com.br
Subject: Re: [ciencialist] Re: "A
Universe From Nothing", by Lawrence Krauss
Olás !
Permitam-me um palpite: O objetivo primário da Ciência é
buscar invariantes, ou seja, procurar as proposições que se mantem constantes
dentro do cenário em que são estabelecidas.
Acredito de que a partir disto se derivam as demais funções
e métodos da Ciência.
NM
=====
Em 25 de junho de 2012 01:27, Homero <oraculo@atibaia.com.br>
escreveu:
Jeff: "Jeff:
A definição destes processos e procedimentos é, justamente, produto de
filosofia, é problema da Filosofia da Ciência. Esta trata dos problemas de
produção de conhecimento válido sobre a natureza, que já começam em como pensar
nisso (com Descartes), se podemos ou não entender a natureza apenas pensando
nela (Empirismo)... Se temos que fazer experimentos, como devem ser feitos pra
serem válidos? Quando podemos enunciar uma lei natural a partir de experimentos
(problema da indução)? Quando podemos dizer que um modelo científico descreve
exatamente a realidade? Estes e outros problemas, e conceitos como
Falseabilidade (para o problema da demarcação) e a Navalha de Occam, são
filosóficos, e guiam o desenvolvimento do método científico.
"
Acho que estamos chegando perto, bem perto, de encontrar a
solução do problema, ou pelo menos entender melhor onde discordamos, todos os
que debatem nesta thread (que é antiga, na verdade, o que é ciência e o que a
difere da filosofia).
Embora a definição, análise das ferramentas e processos da
ciência, seja assunto da filosofia (em sentido bem restrito, como em filosofia
da ciência), essa definição, elaboração, análise, não é a ciência e a ciência
não precisa dela, não fundamentalmente.
É possível "fazer ciência" sem precisar analisar
o como e porque. A não ser em sentido muito, mas muito amplo do termo, de forma
que, como tenho tentado colocar, a tornar quase inútil o termo, filosofia. Se
TUDO é filosofia, então NADA também é filosofia, e torna qualquer discussão
sobre o alcance do termo, inútil.
É possível, pelo menos como eu vejo (e dentro do sentido
restrito dos termos que tento usar aqui) "fazer ciência" sem pensar,
filosoficamente, sobre o que se faz. O simples ato de "perceber" a
eficácia, ou não, de algo, e anotar isso para futuras referências, e comparar
com eventos semelhantes, pode nossa dar "informações", conhecimento,
de forma confiável.
Ou seja, ciência.
Depois, podemos pensar sobre o que dá essa eficiência, qual
os desdobramentos, a questão da indução versus dedução, e todo arcabouço
investigativo, filosófico, que ajuda a ciência, mas não é seu cerne, nem um
fundamento absoluto.
Deve ser algo claro também que nada disso tem a menor
relação com a teologia.:-) Filosofia sim, mas teologia é apenas mitologia com
um verniz de respeito exagerado.
Fazemos ciência antes do conceito de falseabilidade, e
pudemos avançar sem este. Idem para a maioria dos aspectos da filosofia da
ciência. A não ser pelo fato de que toda ação humana, inclusive a ciência, se
dá em alguma medida na "mente", e a mente é, por definição subjetiva,
a ciência pode se manter lidando com o objetivo, o concreto, e a filosofia com
o subjetivo, abstrato.
Usando o exemplo sobre a questão, do que o Sol é feito,
qual sua constituição, isso poderia ser resolvido apenas com a ciência. O
conhecimento necessário, claro, é complexo, que vai desde a teoria atômica, até
a física do eletro-magnetismo, mas não precisa de nenhuma análise filosófica em
relação as ferramentas e dados obtidos.
Analisando suas questões, sobre a ciência:
Jeff: "Se temos que fazer experimentos,
como devem ser feitos pra serem válidos?"
O exame de protocolos apenas remotamente pode ser chamado
de "filosóficos". Para a maior parte dos experimentos, são
absolutamente concretos, estatísticos, modelos de eficácia. Uma boa parte
deles, em especial no passado, foram criados, aplicados, e apresentaram seus
resultados, e novos conhecimentos, sem filosofar a respeito, a não ser no
sentido de 'pensar sobre algo'. Como você pensa que isso seria relacionado a
filosofia? Sem usar o alcance amplo de "tudo que se pensa é filosofia".
Por exemplo, um experimento que teste a eficácia de uma
nova droga, mede o resultado em pacientes, como isso pode ser uma questão
"filosófica"? Como detectar uma regressão de câncer pode ser
"filosófica"? Como comparar o número de regressões, em um grupo de
pacientes, com outro grupo, pode ser filosófico? Será que só fizemos
experimentos que testavam algo "depois" da falseabilidade de Popper?
Claro que podemos, depois, analisar o processo todo
filosoficamente, mas se não o fizermos, isso muda algo nos resultados, ou no
conhecimento obtido (funciona, não funciona)? Se o experimento é para saber do
que o Sol é feito, a validação é se o resultado é confiável, não
filosoficamente, mas concretamente.
Jeff: "Quando podemos enunciar uma lei
natural a partir de experimentos (problema da indução)?"
Talvez essa seja a questão que mais chega perto de ser
"filosófica". Mesmo assim, apenas porque sua formulação e, em boa
medida, abstrata, colateral, etc. Lei natural não é um conceito concreto, mas
em alguma medida subjetivo. É lei natural o que definirmos que seja, e já
mudamos essa definição algumas vezes (a lei natural já foi a vontade de deus
por muito tempo, como Sua ação em manter os planetas, o Sol e a Lua a girar ao
redor da Terra).
Não admira que seja algo a ser discutido pela filosofia,
mas não afeta a ciência produzida por isso. A gravitação de Newton, as órbitas
de Galileu, não ligam se são causadas pela "lei natural" da vontade
de deus, ou a "lei natural" da física moderna.
Podemos deixar totalmente a noção, conceito, de lei
natural, e ainda ter ciência e conhecimento científico.
Jeff: "Quando podemos dizer que um modelo
científico descreve exatamente a realidade?"
Quando este apresenta evidências que assim indiquem.
Eficácia e previsões são um bom começo. E não precisam ser filosóficos, a não
ser no amplo (e algo irrelevante) sentido do termo, sobre "pensarmos"
sobre isso. O modelo científico nem precisa descrever "exatamente" a
realidade, precisa apenas se aproximar o suficiente para ser confiável. Terra
redonda, por exemplo, embora incompleto e em alguma medida "errado",
é suficientemente melhor que Terra plana, para permitir, entre outras coisas, a
circunavegação, precisão encontrada em mapas, satélites, etc. É, nesse sentido,
mas eficiente que a Terra plana, e é adotado por isso, não necessitando de
filosofarmos sobre o assunto antes de decidir por sua correção.
Pessoas, pesquisadores, fizeram ciência bem antes de
pensarmos sobre ciência, de filosofarmos sobre ciência, apenas estudando
efeitos e eficácia, entre eventos, fenômenos e a realidade. Sim, podemos
filosofar sobre "o que é realidade", mas não precisamos disso para
entender, cientificamente, o que é algo real, ou não.
A não ser se cairmos na armadilha do solipsismo absoluto, o
que acho que não é nosso caso.:-)
Vacinas são ciência. Se baseiam em conhecimento, amplo,
sobre diversos assuntos, como microbiologia, biologia, metabolismo, etc, mas
principalmente se baseiam na eficácia das mesmas. Foram criadas com base em
"pensamento" experimental, foram combatidas com base no
"absurdo" da proposição, e foram aceitas, como reais, pela eficácia
brutal que apresentavam (cidades vacinadas não tinham mais epidemias que
arrasavam as cidades vizinhas sem vacinas).
Qualquer pesquisador que repetisse os passos, sem pensar
filosoficamente sobre eles, encontraria como resposta as vacinas. E estas
funcionariam, teriam eficácia, sem necessidade de se pensar filosoficamente
sobre o assunto.
Acho que é essa toda nossa discordância. Alguns de nós
parecem pensar que a filosofia precede a ciência (no sentido que estamos usando
hoje, moderno, não a filosofia natural, a proto-ciência do passado, nem a
versão ampla que torna TUDO ciência, pois TUDO é pensado em alguma medida),
enquanto outros, eu por exemplo, pensam que isso não é necessário.
Ajuda, é importante, amplia nossa principal ferramenta de
investigação, mas não é seu núcleo ou elemento de base.
Da forma como vejo, como uso os termos ciência e filosofia,
seria possível uma civilização (alienígena, talvez?.:-) que fizesse ciência,
sem nenhuma filosofia envolvida, usando exclusivamente a medida da eficácia,
resultados concretos, como base de investigação.
Seria uma cultura estranha para nós, e talvez difícil de
ocorrer, mas não impossível.
Um abraço.
Homero
--- Em ciencialist@yahoogrupos.com.br,
Jeff <jeff@...> escreveu
>
>
>
> > Olá Victor!
> >
> > Olá, Jeff
> >
> > Só uns pitáculos, de leve.
> >
>
> > DE: ciencialist@yahoogrupos.com.br
> [mailto:ciencialist@yahoogrupos.com.br]
EM NOME DE Jeff
> > ENVIADA EM:
> quarta-feira, 20 de junho de 2012 11:22
> > PARA:
> ciencialist@yahoogrupos.com.br
> > ASSUNTO: Re: [ciencialist] Re: "A
> Universe From Nothing", by Lawrence Krauss [1 Anexo]
> >
> > [ DE JEFF
> INCLUÍDOS ABAIXO]
> >
> > Olá Homero!
> >
> >>
> > >Eu quero saber do que o
> Sol é feito. Posso usar espectrografia para isso.
> > >Nada, nesse
> processo, tem a ver com metafísica ou filosofia, ou questões
> >
> >subjetivas, sociais, etc. Nem mesmo o conhecimento em que se baseia a
>
> > >espectrografia tem relação com o que propõe, defende.
> > >
> >
> > Mas
> a ciência é baseada em filosofia, o próprio método científico é
> filosófico. Depois, sim, ela anda sozinha, sem filosofia. Mas mudanças
> no método científico, que afetariam a ciência, seriam filosóficas...
> >
>
> > Victor: O método científico é um procedimento técnico; é um processo.
> E é objetivo. Nada tem de filosofia, em meu entendimento, claro. Pode
> até ter sido engendrado por ela, a filosofia, quando a ciência ainda
> engatinhava. Mas, necessariamente, nem precisava. Se estava lá,
> interagindo, o foi por mero acaso. O próprio desenvolvimento da ciência,
> seus atropelos, altos e baixos, acabaram por traçar o caminho, o melhor
> caminho a ser seguido. Processos e procedimentos, é o que foi.
> >
> >
> Jeff: A definição destes processos e procedimentos é, justamente,
> produto de filosofia, é problema da Filosofia da Ciência. Esta trata dos
> problemas de produção de conhecimento válido sobre a natureza, que já
> começam em como pensar nisso (com Descartes), se podemos ou não entender
> a natureza apenas pensando nela (Empirismo)... Se temos que fazer
> experimentos, como devem ser feitos pra serem válidos? Quando podemos
> enunciar uma lei natural a partir de experimentos (problema da indução)?
> Quando podemos dizer que um modelo científico descreve exatamente a
> realidade? Estes e outros problemas, e conceitos como Falseabilidade
> (para o problema da demarcação) e a Navalha de Occam, são filosóficos, e
> guiam o desenvolvimento do método científico.
> >
> > "..... Não é só ele,
> conheço muita gente assim... Me parece que o medo de concluir a
> inexistência de deuses é tão grande que cria um "buraco negro"
na
> racionalidade da pessoa neste ponto... :) O raciocínio acaba no
> "horizonte de eventos" deste... :)"
> >
> > Victor: Eu também conheço.
> Sabe?, eu acho que esse seu pensamento tem a muito a ver. Tudo parece
> indicar que é por aí mesmo.
> >
> > Sds,
> >
> > Victor.
> >
> > []´s,
> > Jeff.
>
> >
> >
>
>
>
>
> Links:
> ------
> [1]
> mailto:ciencialist@yahoogrupos.com.br?subject=RES%3A%20%5Bciencialist%5D%20Re%3A%20%22A%20Universe%20From%20Nothing%22%2C%20by%20Lawrence%20Krauss%20%5B1%20Anexo%5D
> [2]
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NM
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Versão: 2012.0.2180 / Banco de dados de vírus: 2437/5092 - Data de Lançamento: