Como ninguém ignora, a educação é um calcanhar de Aquiles no Brasil de hoje. Apesar de alguns avanços obtidos modernamente, como a quase universalização do ensino básico, os problemas são enormes, começando exatamente pela base. O ensino básico é falho, e isso é cruel para as camadas da população que dependem do ensino público. Se a base é falha, a performance desses alunos logo adiante se mostrará insuficiente, e não é o sistema de cotas que vai trazer solução para isso.
Como este é o país das soluções mágicas, há um projeto em andamento, na Câmara, que garante 10% do PIB para a educação. É uma dessas boas intenções de que está recheado o inferno. O problema da educação não está em gastar mais, mas em gastar com mais eficiência. Não sendo assim, o que se faz é apenas eternizar mazelas, e estimular o desvio de verbas. Sem falar no fato de que a curva demográfica brasileira, em 30 ou 40 anos, tornará a crise da Previdência bem mais grave que a da Educação — e não é um orçamento engessado que dará conta disso.
Em vez de soluções mágicas, está na hora de trabalhar com a realidade. É o que já foi mostrado numa série de reportagens do GLOBO — “Aula de excelência na pobreza” — que conquistou o Prêmio Esso de Educação.
Agora surgem novos dados, resultantes de pesquisas da Fundação Lemann. Colégios públicos em locais tão diferentes quanto Pedra Branca (Ceará), Palmas (Tocantins), Acreúna (Goiás), Foz do Iguaçu, mostram resultados que podem chegar perto do que se obtém em escolas bem-sucedidas dos grandes centros.
Nenhum desses sucessos depende de fórmulas mágicas, e sim de coisas bastante claras e concretas como valorização do professor, acompanhamento das secretarias municipais de educação, interesse e acompanhamento dos pais de alunos, escolas limpas e bem cuidadas, diretores capazes.
Também não se ficou no empírico, ou no teórico. Uma das características comuns a esses pontos pesquisados é o acompanhamento do processo para descobrir o que funciona e o que não funciona.
No caso de alunos pobres, um dado essencial é a comunicação entre professores e alunos — para que o aluno mais atrasado não se sinta perdido e afunde definitivamente. Professores bem-sucedidos nessa tarefa podem ser chamados a partilhar sua experiência com outros colegas. Também traz bom resultado a instituição de bônus para professores que atendam a determinadas metas.
Não há grandes segredos em tudo isso. O ensino básico é responsabilidade de estados e municípios; mas o governo federal tem a obrigação de liderar uma campanha que transforme a educação em questão de salvação pública. Que é o que ela é.